Grande menina Kim
- Myriã Almas e Ana Nunes

- 4 de mai. de 2020
- 2 min de leitura
As marcas de uma guerra no corpo de uma mulher

No dia 8 de junho de 1972, a vida de Kim Phuc Phan Thi, de apenas 9 anos iria mudar para sempre. A vila em que a menina vivia foi duramente atacada por bombas de Napalm durante a guerra do Vietnã. Durante o ataque, Kim foi atingida por químicas das bombas quem fizeram com que a pele dela descola-se do corpo. “Nós ouvimos os soldados gritando que tínhamos de correr o mais rápido que podíamos”, conta Kim. “Quando entrei na Rodovia 1, vi os aviões voando em minha direção, fazendo muito barulho. Pensei que deveria correr, mas estava congelada. Naquele momento, vi com meus próprios olhos quatro bombas caindo e, em seguida, o fogo ao meu redor”, relata. “O fogo destruiu todas as minhas roupas, por isso fiquei tão queimada nas costas, na nuca e no braço esquerdo. ”
Durante a ocasião, o fotógrafo Nick Ut estava estrategicamente posicionado na estrada e capturou o momento em que Kim corria desesperada e nua, já que suas roupas foram corroídas com as substancias, assim como sua pele. Após dias internada, quando voltou para casa, deparou com uma cena que para ela era chocante, a foto de Kim estava estampadas em jornais. “Só conseguia pensar que estava feia, não entendia porque o fotógrafo havia tirado aquela foto quando eu estava pelada, com o rosto tão feio. Eu sofri muito, mas não só com as queimaduras. Passei por traumas, tinha pesadelos, baixa auto-estima, muito ódio e amargura.”
Após a guerra, em 1975 o Vietnã passou a ser comandado por um governo comunista, que passaram a convocar Kim para uma série de entrevistas e aparições publicas, com intuito de usa-la como propaganda do regime. Aos 23 anos Kim conseguiu permissão para viver em Cuba sob outro governo comunista, porém não conseguiu concluir os estudos. “Eu me tornei uma prisioneira daquela guerra política, eu não tinha liberdade nem escolha, tinha de seguir o que eles queriam que eu fosse”.
Em 1992, casou-se com Toan, o casal então resolveu fugir no país e pedir refugio no Canadá. Apesar dos médicos falarem que ela jamais poderia ser mãe, Kim conseguiu realizar seu sonho e teve 2 filhos em Toronto (Canadá) “Meu sonho, quando cheguei ao Canadá, era escapar daquela foto. Eu queria ser normal, voltar a estudar, ter um emprego”, conta. “Quando meu primeiro filho nasceu, aquela foto me desafiou e se tornou um presente”.
Hoje ela tem uma fundação chamada KIM Foundation International, que oferece tratamento e prótese para feridos em conflitos em todo mundo, além de patrocinar a construção e manutenção de escolas, hospitais e orfanatos. Hoje Kim garante que conseguiu perdoar e entender tudo que aconteceu em sua vida e que isso a tornou uma grande mulher. “Eu tinha muita raiva antes, até de mim mesma pelas minhas cicatrizes e por toda a dor que sentia”, disse a VEJA. “Quando aprendi a amar e perdoar meus inimigos, meu coração se libertou de todo o ódio”.
Fonte: Revista Veja




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